A saúde é um estado precário que não augura nada de bom

Tudo acaba, tudo termina, tudo tem um fim. Não há nada que dure para sempre, à excepção do Deus intemporal no qual Saramago teimava em não acreditar.
O pouco tempo que temos não é nosso, não o possuímos, não o merecemos, trata-se certamente de um empréstimo. É-nos confiado sem seguro pois, se o perdemos, não há compensação ou recuperação possível. É-nos confiado com juros, pagamos por ele com a nossa degradação. É-nos confiado por tempo indeterminado, desconhecido, ignorado.
Na manhã da vida, ele passa devagar, preguiçoso, demorado. Ninguém se apercebe quão frágil e instável é a condição do ser humano. A inocência com que nascemos deixa-nos sonhar que podemos voar alto, ainda que só as aves sejam equipadas para tal.
Na tarde da vida, ousamos pensar que podemos viver para sempre, ainda que a ciência nos diga o contrário. Acreditamos que somos invencíveis, insuperáveis tanto quanto o nosso ego permite. É este orgulho que se apodera de nós, dando-nos a confiança de que somos independentes, é uma arrogância que nos cega perante a realidade de que somos frágeis e delicados.
No anoitecer da vida, a experiência dá-nos a conhecer o inevitável. Resta-nos saber se, quando lá chegarmos perto, teremos a coragem para o enfrentar. Alguém disse que a coragem não é a ausência de medo, mas é a nossa reacção quando o medo chega. É cada vez mais evidente que a saúde é um estado precário que não augura nada de bom. A solidão, a dor, a saudade fazem parte do dia-a-dia.
Tudo acaba, tudo termina, tudo tem um fim. E a noite chega…
Mas para mim é um novo dia que nunca acaba, nunca termina, onde o tempo não existe. E onde posso estar com o Deus que Saramago teimou em não amar.

Texto: Joana Loja

Setembro 2010

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